dezembro 28, 2008

Turismo: As Cavernas de Minas Gerais

Turismo: As Cavernas de Minas Gerais

O médico, botânico e zoólogo dinamarquês Peter Wilhelm Lund escolheu, em 1835, a pequena cidade de Lagoa Santa para viver os seus dias. Suas peregrinações pela região da bacia do Rio das Velhas, à procura de espécies animais e vegetais, fizeram com que ele encontrasse cavernas com segredos milenares.

Lund foi descobrindo um mundo debaixo da terra, repleto de magia, curiosidades e, sobretudo, beleza. Segundo especialistas seguidores de Lund, que se tornou o "pai" da paleontologia brasileira (ciência que estuda animais e vegetais fósseis), as cavernas ou grutas mineiras são do período pré-cambriano, o que significa que elas vêm se formando há 600 milhões de anos. Suas características, dizem também os estudiosos, se assemelham a formações profundas do mar.

Cavernas de Minas GeraisMais de 500 grutas já foram catalogadas em mais de 100 cidades mineiras. Os estudos científicos ainda são poucos diante desse mundo fabuloso. As grutas mais importantes são de rocha calcária e seus salões e galerias foram se formando durante milênios, pela ação da água. As dificuldades encontradas por Lund ainda são enfrentadas hoje por seus seguidores. Parece que a Natureza quer dizer ao Homem o que o geólogo Frederico Ozanam constatou: há um limite para que a desvendem.

Um limite que permitiu a Lund descobrir e estudar as Grutas de Lapinha e de Maquiné. Juntamente com a Gruta Rei do Mato (somente desvendada há pouco tempo), elas formam o tripé do que é permitido ao público conhecer. Nenhuma outra das centenas de grutas e cavernas de Minas Gerais pode ser aberta publicamente. Apenas cientistas as conhecem. E muitas são descobertas pelos depredadores da Natureza, aí se incluindo empresas metalúrgicas à procura de material para exploração e comercialização. Há casos de empresas que chegaram a destruir sítios paleontológicos em nome da atividade econômica.

Grupos científico-culturais lutam pela preservação e catalogação do que chamam de "Circuito das Grutas". E tudo fazem para cumprir o lema da espeleologia (ciência que explora e estuda as grutas), que diz: "Em uma caverna nada se tira, a não ser fotografias; nada se deixa, a não ser pegadas; e nada se mata, a não ser o tempo".

Recentemente, um grupo de cientistas do Governo brasileiro dedicou-se ao estudo e catalogação de cavernas na região de Sete Lagoas - Lagoa Santa. O "Inventário de Cavidades Naturais" da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) fez o levantamento, descrição e topografia de 218 novas cavernas, numa área de apenas 182 quilômetros quadrados. Na mesma região ja haviam sido catalogadas 81 grutas, o que forma um acervo de 299 cavernas.

Essas pesquisas fazem parte do chamado Projeto VIDA (Viabilidade Industrial e Defesa Ambiental). A região de Sete Lagoas - Lagoa Santa foi escolhida porque, vivendo um período intenso de desenvolvimento sócio-econômico, especialmente da atividade mineira, possui riquezas naturais e históricas, entre as quais se incluem grutas e sítios arqueológicos e paleontológicos.

A região fica ao Norte de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, e engloba oito cidades, numa área de 1.890 quilômetros quadrados. O objetivo principal do projeto foi o de subsidiar os governantes desses municípios para o uso e ocupação do solo, indicando áreas onde o patrimônio espeleológico tem relevância, ou áreas cujas características possam oferecer riscos às diferentes iniciativas sócio-econômicas.

Nesse trabalho, os pesquisadores também estudaram os vários tipos de aves que habitam as proximidades das cavernas e os animais que, de alguma forma, fazem uso delas. Rolinhas, Fogo-Apagou, Papa-Capim, Sabiá-do-Campo, Risadinha, Bem-Te-Vi-Penacho-Vermelho e Beija-Flor-de-Orelha-Violeta são alguns dos nomes de aves catalogadas pela equipe da CPRM.

Entre as grutas exploradas pelos cientistas, há várias curiosidades registradas. Na Gruta da Jaguará I, por exemplo, não foi encontrado qualquer vestígio de presença humana. Ao contrário da Gruta do Portal, onde havia detritos orgânicos, muito lixo e pichações. Na Gruta Lapa da Caieira foram localizadas pinturas rupestres já ameaçadas por intensa depredação. Outras grutas, situadas em áreas de mineração, já sofrem influência direta dessas atividades.

O estudo revela, no entanto, a presença fantástica das formações geológicas. A Gruta Fina possui um salão intensamente ornamentado por estalactites (formas pontiagudas que saem do teto) e estalagmites (formas pontudas que saem do chão). O mesmo acontece na Gruta da Coruja. Já na Gruta das Conchas I foram encontrados vestígios paleontológicos (ossos e fragmentos de ossos incrustados). Na Gruta do Tombo os cientistas revelam terem encontrado superfícies cobertas por cristais de calcita facetados, formando um verdadeiro "chão de estrelas" de grande beleza.

Beleza. Esta é a palavra que sai da boca de todos aqueles que visitam as três grutas mineiras abertas ao público: Lapinha, Maquiné e Rei do Mato. A Gruta da Lapinha foi a primeira a ser descoberta por Lund e fica na cidade de Lagoa Santa, onde o cientista dinamarquês viveu até o ano de 1880. Ao descobrir Lapinha, ele afirmou: "Nunca os meus olhos viram coisa tão bela e magnífica nos domínios da Natureza e da Arte". O material coletado por Lund foi enviado para o Rei Christiano VIII da Dinamarca e se encontra no Museu de Copenhague.

Supostamente formada há cerca de 900 milhões de anos, na Lapinha foram encontrados importantes fósseis, como o crânio do Homem de Lagoa Santa, que teria vivido na região há dez mil anos. Também foram encontrados fósseis de animais pré-históricos como o tigre dente-de-sabre e o tatu-gigante.

Com 511 metros de extensão e 40 metros de profundidade, a Lapinha tem 16 salões fantásticos. No Salão da Catedral pode-se ver imagens formando santos, púlpitos e nichos. Há ainda a Sala das Pirâmides e a Galeria da Noiva, com formações que lembram o véu e o bolo de noiva. Outras formações lembram cascatas com intenso brilho.

A Gruta de Maquiné foi a segunda descoberta por Lund. Fica na cidade de Cordisburgo, a 130 quilômetros de Belo Horizonte, onde nasceu o escritor João Guimarães Rosa. São 650 metros de extensão, sendo 440 metros abertos ao público, distribuídos em seus salões. É espetacular. Os estalactites formam figuras de animais ou um cogumelo de bomba atômica. A Galeria das Fadas, onde cristais brilhantes formam franjas, grinaldas e lustres, é especial em sua delicadeza. A Gruta de Maquiné é a maior já descoberta em Minas Gerais e disponível para a visitação pública. Nela foram também encontradas pedras, ossadas humanas e restos de animais pré-historicos.

A mais nova das três é a Gruta Rei do Mato, aberta ao público apenas em 1989. Fica na cidade de Sete Lagoas, a 62 quilômetros de Belo Horizonte. São 998 metros de extensão, sendo que apenas 220 metros estão abertos ao público e se distribuem em três salões. Possui estalactites, estalagmites e cascatas de pedra com brilho de cristal. A Gruta Rei do Mato ainda é uma gruta que se diz "viva" porque continua se formando pela ação da água.

Em um dos salões há um lago suspenso chamado "Poço dos Desejos". O Salão das Raridades tem esse nome porque aí se encontram colunas idênticas, paralelas, formadas de cristais de Calcita, com diâmetro de 30 centímetros e mais de 20 metros de altura. Formações desse tipo somente foram encontradas na Gruta de Altamira, na Espanha.

A Gruta Rei do Mato tem esse nome porque ali teria vivido um homem fugidio, que recebia alimentação dos moradores em troca dos remédios de ervas que preparava. Chamavam-no de "Rei do Mato". Seu lugar de moradia era Grutinha, que fica próxima à entrada da Gruta Rei do Mato. Nela existem inscrições rupestres de quatro a seis mil anos de idade, representando cenas de caça e pesca, além de um ritual de fertilidade. Foi também montada alí uma réplica do esqueleto do "Xenorrinoterium bahiense", um animal que viveu na região há mais de 10.000 anos.

As três grutas mineiras abertas ao público têm infra-estrutura para alimentação, transporte fácil e guias que orientam os visitantes. A visitação é feita por escadas e corredores, e a iluminação é artificial. Não importa com que interesse se vai a uma gruta de Minas: se turístico ou científico. O olhar vai sempre encontrar um mundo de imensa beleza e magia.

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